terça-feira, 29 de maio de 2012

Um apólogo

Quando era mais novinha, não me encantava muito com Machado de Assis. Achava-o taciturno, sério demais. É bem verdade que ainda não o li muito, mas aqui e ali andei me encontrando seu lado satírico-sarcástico, acre sim mas se você entende a piada (como aquelas de filmes americanos), dá uma vontade danada de rir com suas filosofices. Esse texto abaixo foi o que me introduziu a esse Machado-humorista-inteligente, na minha opinião, e depois dele encarei, ainda reticente a princípio, Memórias Póstumas de Brás Cubas que tem uma introdução meio monótona como a própria personagem faz questão de mencionar mas que tem também o seu humor. Bom, mas eu não estou aqui para fazer crítica literária, até porque não tenho cabedal para isto mas para apresentar esse texto de que gosto muito. Vamos então a ele!

Um Apólogo
Machado de Assis

Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale alguma cousa neste mundo?
— Deixe-me, senhora.
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
— Que cabeça, senhora?  A senhora não é alfinete, é agulha.  Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a dos outros.
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa!  Porque coso.  Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose, senão eu?
— Você?  Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou eu e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição aos babados...
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem atrás obedecendo ao que eu faço e mando...
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto...
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser.  Uma e outra iam andando orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:
— Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?  Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima...
A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:
— Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas?  Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha: 
— Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico. 
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:
— Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!

Texto extraído do livro "Para Gostar de Ler - Volume 9 - Contos", Editora Ática - São Paulo

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Frivolité com agulha...falha nossa!

Conforme prometido, aqui está um vídeo caseiro, bem ruinzinho(escuro, cheio de erros no frivolité...), somente para mostrar o que eu havia dito num post anterior. Tentei, e parece que até o momento tem dado certo, usar uma agulha de tapeçaria grande (as pequenas são ruins de manusear), como se fosse uma navete. O resultado do trabalho fica bem próximo daquele feito com a navete, pelo menos eu acho, como vocês podem ver no vídeo (ou não...risos!). Espero que sirva a alguém que, assim como eu, não tem acesso às ferramentas apropriadas. Talvez vocês até já soubessem disso mas enfim, a intenção foi das melhores apesar de o vídeo não ser. Só um senão...Como no frivolité com agulha, também não é possível dispor de muita linha para o trabalho pois ela se enrosca toda. Mas isso são "ossos do ofício", não é mesmo? Espero que a minha "descoberta" sirva prá alguma coisa. Até logo!


segunda-feira, 7 de maio de 2012

Agulha versus navete - Novos caminhos



A respeito do post no "Entrelinhas" devo dizer que encontrei um vencedor para essa contenda...tcharam! A agulha! Descobri por minha própria experiência, que se utilizada como uma navete, obtém o mesmo resultado final (dam...!). Tendo experimentado as navetes de papelão e as próprias bobinas de máquina, resolvi seguir o mesmo princípio-técnica da navete com uma agulha de tapeçaria (daquelas grandes e grossas) e, pelo menos até agora tenho obtido o mesmo resultado obtido com a navete: trabalho firme seguindo a espessura da linha. Assim que puder posto as fotos ou um vídeo para que vocês vejam e opinem. Suponho que é mais uma saída para aqueles, que como eu, têm dificuldade de encontrar as navetes ou as agulhas apropriadas para o frivolité-tatting em seus locais de moradia. Alguém já havia experimentado isso? É ou não uma boa idéia? O que me dizem? Vamos lá, não sejam tímidos! Comentem por favor!


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